O Cisne (um poema de Kabir)

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Cisne fotografado no rio Amstel, na Holanda. Autor: Arthena.

*

Conta-me, ó Cisne, tua velha história.

De onde viestes? Para onde vais?

Em que margem pousarás para descansar?

A qual meta entregastes o coração?

*

Esta é a manhã da consciência!

Voemos juntos! Desperta! Segue-me!

Há um lugar livre da dúvida e da tristeza,

Onde o terror da morte não impera.

*

Lá, florescem bosques em eterna primavera,

E sua fragrância faz avançarmos mais e mais.

Imerso nela, o coração, qual abelha, se inebria.

Imenso nela, já não quer outra alegria.

*

Nota

Este é o décimo segundo dos 100 poemas de Kabir que recriei em português, a partir da famosa tradução inglesa de Rabindranath Tagore. Eu já o havia postado no blog, junto com outros 11 poemas dessa coleção. Mas vários fatos recentes o colocaram novamente em evidência. Por isso, decidi republicá-lo isoladamente aqui.

Dos poemas vertidos por Tagore, este foi, talvez, o que mais repercutiu no Ocidente, impressionando profundamente Yeats e outros artistas e intelectuais que o leram.

Quem é o Cisne ao qual o grande místico e poeta indiano do século XV dirigiu a palavra? O Cisne é, por excelência, a metáfora do buscador espiritual, daquele que trilha o caminho da autorrealização. A metáfora alude à capacidade que essa ave possui de transitar entre diferentes planos de realidade (a terra, a água, o ar) sem se apegar a nenhum deles.

De fato, o símbolo do cisne é recorrente na cultura mundial. A história do Patinho Feio, que, ridicularizado por sua aparência e inadaptado ao meio durante a infância, cresce e amadurece como um esplêndido cisne, é o clássico roteiro daquele que procura ultrapassar a mera aparência dos fenômenos e as convenções socialmente estabelecidas. Seu autor, o dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 – 1875), a considerava autobiográfica.

No hinduísmo, o Cisne é a montaria (vahana) da deusa Saraswati, protetora do conhecimento, da música e da literatura. E o título Paramahansa (Supremo Cisne) foi atribuído a muitos mestres que alcançaram a autorrealização. Ramakrishna e Yogananda foram os mais famosos iogues dos tempos modernos que receberam esse título.

Para ler os 12 poemas de Kabir postados no blog, acesse: https://josetadeuarantes.wordpress.com/2012/03/22/12-poemas-de-kabir/

Para ler um perfil biográfico de Kabir postado no blog, acesse: https://josetadeuarantes.wordpress.com/2012/03/05/kabir-o-tecelao-da-palavra/

O livro, com os 100 poemas de Kabir recriados e comentados por mim, pode ser comprado por encomenda nas livrarias. A referência é Kabir: Cem Poemas (Attar Editorial, 2013). Também é possível adquiri-lo diretamente na editora, escrevendo para attar@attar.com.br