O homem de Deus (um poema de Rumi)

Dervixes, Konya, Turquia

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O homem de Deus está ébrio sem vinho,

O homem de Deus, saciado sem pão.

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O homem de Deus está apaixonado, arrebatado,

O homem de Deus não come nem dorme.

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O homem de Deus é um rei sob andrajos,

O homem de Deus, um tesouro entre ruínas.

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O homem de Deus não é da terra ou do água,

O homem de Deus não é do fogo ou do ar.

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O homem de Deus é um oceano sem praias,

O homem de Deus chove pérolas, sem nuvens.

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O homem de Deus traz cem luas e cem céus,

O homem de Deus possui a luz de cem sóis.

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O homem de Deus tornou-se sábio pela Verdade,

O homem de Deus não se fez erudito nos livros.

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O homem de Deus está além da fé e da incredulidade,

Para o homem de Deus, que pecado ou virtude existem?

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O homem de Deus cavalgou para fora do não-ser,

O homem de Deus acercou-se com porte sublime.

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O homem de Deus está oculto, ó Shams-ud-Dîn!

Procura e encontra o homem de Deus.

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Nota

Este poema faz parte do Divã de Shams de Tabriz, uma das principais obras de Jalal ud-Din Rumi. Recriei em português a partir da tradução francesa de Eva de Vitray-Meyerovitch e Mohammad Mokri: Odes mystiques – Divan-e Shams-e Tabrîzî (Paris, Éditions Klincksieck, 1973).

Sobre o relacionamento de Rumi e Shams, que motivou todos os poemas contidos no Divã, leia “Rumi e o encontro dos dois oceanos”, em