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O homem de Deus está ébrio sem vinho,
O homem de Deus, saciado sem pão.
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O homem de Deus está apaixonado, arrebatado,
O homem de Deus não come nem dorme.
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O homem de Deus é um rei sob andrajos,
O homem de Deus, um tesouro entre ruínas.
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O homem de Deus não é da terra ou do água,
O homem de Deus não é do fogo ou do ar.
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O homem de Deus é um oceano sem praias,
O homem de Deus chove pérolas, sem nuvens.
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O homem de Deus traz cem luas e cem céus,
O homem de Deus possui a luz de cem sóis.
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O homem de Deus tornou-se sábio pela Verdade,
O homem de Deus não se fez erudito nos livros.
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O homem de Deus está além da fé e da incredulidade,
Para o homem de Deus, que pecado ou virtude existem?
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O homem de Deus cavalgou para fora do não-ser,
O homem de Deus acercou-se com porte sublime.
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O homem de Deus está oculto, ó Shams-ud-Dîn!
Procura e encontra o homem de Deus.
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Nota
Este poema faz parte do Divã de Shams de Tabriz, uma das principais obras de Jalal ud-Din Rumi. Recriei em português a partir da tradução francesa de Eva de Vitray-Meyerovitch e Mohammad Mokri: Odes mystiques – Divan-e Shams-e Tabrîzî (Paris, Éditions Klincksieck, 1973).
Sobre o relacionamento de Rumi e Shams, que motivou todos os poemas contidos no Divã, leia “Rumi e o encontro dos dois oceanos”, em