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Queria lhe entregar, coaguladas,
As espumas dos mares mais antigos.
Que você soubesse, em caixas,
Dos abismos de que dá conta o sal.
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Recortar, em cubos, a lembrança
Da umidade de tardes estendidas,
Da ostra que vibra entre cílios,
Nostálgica de lua e oceano.
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Preservar, geométrico, o registro
Do nascimento dos desejos líquidos,
Da memória pisciana em que mergulho,
Do labirinto de água em que me perco.
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Nota
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Este poema nasceu do título de um quadro de Salvador Dali. Considero o quadro muito ruim, como, de resto, toda a obra de Dali. Mas o título, “O nascimento dos desejos líquidos”, é genial. E ficou comigo desde a juventude, para se desdobrar em versos quando o sentimento latente encontrou um bom motivo para se expressar. Isso tudo aconteceu muito antes de eu saber da existência de Zygmunt Bauman.
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