Qualquer coisa

Flor

Foto: Márcia Micheli

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Para Mi, porque lemos juntos o conto “Preciosidade”

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“Todo o mundo é um movimento do Espirito nele mesmo (…)

Cada objeto separado no universo é, de fato, o universo inteiro (…)”

(Sri Aurobindo, comentário à Isha Upanishad)

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Qualquer coisa é um hieróglifo, um mantram, um círculo,

A perfeição da redondeza,

A realidade indivisa, o Unus Mundus, o númeno.

Qualquer coisa é todas as coisas, um conto de Clarice, um ah,

A perfeita surpresa,

A rã que mergulha n’água, o Shemá, a Basmallah.

Qualquer coisa é um avistamento de baleia,

Em que algo, que é baleia, sobe acima da linha d’água,

Enquanto o mais, que é baleia, permanece invisível.

Qualquer coisa é tanta coisa e coisa nenhuma,

Pois o que é a coisa, senão a irrupção do Incognoscível?

Então, há que assumir diante da coisa um compromisso inegociável,

Porque qualquer coisa não é uma coisa qualquer.

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