O fogo (um poema de Ibn Árabi)

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1. O relâmpago brilhou e ansiei pelo oriente.

Tivesse brilhado no oeste, para lá me voltaria.

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2. Queimo pelo relâmpago e seu brilho,

Não por este ou aquele lugar na Terra.

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3. O vento leste me trouxe palavras de paixão,

De tristeza, de angústia, de desordem,

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4. De embriaguez, de sobriedade, de saudade,

Do fogo em meu coração.

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5. Aquela a quem amas reside em teu peito, disse o vento,

Embalada por teus suspiros.

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6. Leva-lhe uma mensagem, respondi,

Fala que é ela quem acende o fogo dentro de mim.

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7. A união eterna o extinguiria. Mas, se ainda queima,

Que culpa tem o amante?

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Nota

Este é mais um dos maravilhosos poemas do Tarjuman al-ashwaq (O interprete dos desejos ardentes), de Ibn Árabi (1165 — 1240). Recriei em português a partir da célebre tradução inglesa de Reynold Nicholson, de 1911, comparando com duas outras traduções mais recentes: a inglesa de Michael Sells e a espanhola de Vicente Cantarino.

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