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“Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem Veram Medicinam”
(sentença cujo acrônimo é o Vitriolum)
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1. Prólogo
Deixar os mortos
deixar a ilha
lançar o barco
no oceano
que a obra escave
as linhas do rosto
e a atenção ancore
sobre a cabeça
buscar o gesto
certo e preciso
e depurá-lo até
que se desvaneça
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2. Partida
Para onde sopra o vento
eu vou
estrada suspensa no ar
frágil sustentação
ainda assim
percurso:
meus passos
nas nuvens
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3. Travessia
Mar desconhecido
paisagem movediça
não há plataforma sólida, ilha
tudo flui e eu busco
no paroxismo da solvência
o embrião de um cristal
princípio de solidez
pedra da transmutação
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4. Invocação
Espírito do cristal, ó mãe
tu derramas tua luz indistintamente
sobre os sábios e os ignorantes
os santos e os pecadores
também sobre este
que te pede
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5. Marco inicial
Um começo, o começo
o homem e seus dons
Adão plenipotenciário
há caminho e eu caminho
sobre a estrada coberta de orvalho
pedra fundamental, pilar
ó tu, que guardas a porta
concede-me a passagem
ó tu, cujos olhos ensinam
concede-me a instrução
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6. Pequena voz
Deixa que a cabeça fale
escuta
cabeça que foi é será
segue a tradição, ela diz
e espera
que a inspiração virá
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7. Fabricação da múmia
Semente plantada
no escuro da terra
Osiris entregue
às potências ctônicas
úmidas entranhas
morna gestação
casulo crisálida processo
metamorfose, então
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8. Luz encubada, o ovo
Promessa de fim de exílio
assomo inaugural da manhã
a vida que cresce aspira irromper
mas há um tempo de plantar
e um tempo de colher
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9. A pedra
Quartzo
corpo de Cristo
grande pilar
Adão transmutado
do jiva de cobre
ao Shiva dourado
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10. Cabeça feita
Cabeça de negro
abu-fi-hikmat
pai da sabedoria
sempiterna voz ancestral
cabeça de ouro
cristal
espelho que reflete
o esplendor
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11. Epílogo
O todo está
totalmente presente
na parte
senão, ó Plotino
o que seria da unidade?
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