Dança, ó Serpente (um poema do Siddha Paambati)

O Siddha Paambati: imagem popular, Tâmil Nadu, Índia

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Nosso corpo mortal com certeza irá.

Aquele que é o Criador de todos os seres,

Segura-te firme para segurá-lo.

E Dança, ó Serpente!

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Os tolos procuram alegria na mentira.

Quem realiza estados superiores observa o Silêncio,

Para buscar a Essência da Verdade. Sabe disso.

E dança, ó Serpente!

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Medita profundamente sobre tal Essência,

Com o coração cheio de amor e devoção,

Assentado em quietude e humildade.

E dança, ó Serpente!

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Em meio a todas as relações, permanece desapegada,

Ó mente, permanece enraizada no Supremo!

Percebe que és, tu mesma, esse Vazio.

E dança, ó Serpente!

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O Sadguru concede a Realização,

Removendo da mente tudo o que a agita.

Contempla-o e ama-o, para sempre.

E dança, ó Serpente!

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Nota Explicativa

Paambati é computado entre os 18 siddhas, ou iogues perfeitos, da cultura tâmil, do sul da Índia. Seu nome iniciático deriva da palavra tâmil Paambu, que significa “cobra”. Lembremos que a Postura da Serpente, uma das ássanas mais famosas do Hatha Yoga, que recebe em sânscrito a denominação de Bhujangasana, é chamada de Paambu Asana em tâmil.

Diz a tradição que Paambati era, originalmente, um encantador profissional de serpentes, que, além de entreter o público por dinheiro, também atendia pessoas vitimadas por picadas de cobras, sabendo tudo sobre venenos e antídotos. Em certa ocasião, ele teria sido informado de que, em determinada floresta, havia uma serpente mágica, com um rubi incrustado no topo da cabeça. Movido pela expectativa de lucro que semelhante raridade poderia lhe proporcionar, Paambati pôs-se a procurar o ofídio. E, esquadrinhando a floresta, encontrou um desconhecido — na verdade, o siddha Sattamuni.

— Quem é você, que eu nunca vi antes? — perguntou Paambati.

— Sou alguém sem importância, que vaga daqui para lá e de lá para cá. E você? — respondeu Sattamuni.

— Sou um encantador de serpentes e procuro por uma cobra mágica, com um rubi na cabeça.

Diante da resposta, Sattamuni começou a rir. E, interrogado pelo motivo da risada, respondeu:

— Estou rindo porque você é um tolo. A serpente que procura fora está, de fato, dentro. É a Kundalini, a força divina adormecida no humano, que, uma vez desperta, pode proporcionar os poderes ióguicos, a imortalidade e a sabedoria. Agora me diga: o que prefere, uma serpente exterior, que talvez lhe renda algum dinheiro, ou a serpente interior, que pode lhe dar a autorrealização?

Paambati, é claro, escolheu a serpente interior. E, iniciado por Sattamuni, veio a se tornar um siddha.

Além das realizações como iogue, Paambati é reconhecido pela excelência de sua poesia. O poema acima faz parte de uma coleção na qual todos os poemas aludem à Kundalini e apresentam um verso que se repete regularmente como refrão: “Dança, ó Serpente!”

Recriei, com alguma liberdade, este poema em português a partir da tradução inglesa disponível no site da Anaadi Foundation:

https://www.anaadifoundation.org/blog/parnika/siddhar-charithiram-pambatti-siddhar/

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