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A Realidade apresenta-se como um caleidoscópio com uma quantidade incontável de espelhos. Gira sem parar e a cada giro produz uma nova figura.
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Cada ente é um conjunto único de figuras possíveis. E cada figura um momento único na história desse ente.
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Não há duas figuras iguais, não há dois momentos iguais, não há dois entes iguais.
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Porém as figuras não são realidades autossuficientes, que existam por si mesmas. Mas prodígios do arranjo de espelhos que compõe o caleidoscópio.
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Alegria e tristeza, prazer e dor, vitória e derrota, e tantos outros pares contraditórios são figuras que o arranjo de espelhos produz e o giro do tubo revoga. Configurações e reconfigurações no jogo interminável de Maia.
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Tudo passa. Exceto o caleidoscópio e o olho que o observa: Shakti e Shiva, em seu interminável jogo metacósmico.
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Até que o interminável termine. E a Criança Divina se canse da brincadeira e atire o caleidoscópio no cesto dos brinquedos descartados.
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Comentário
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Isso não quer dizer que o jogo cósmico seja fútil. Por mais que o mundo pareça, muitas vezes, contingente e absurdo, insisto em acreditar que tudo tem um propósito e que há um sentido no fluxo dos fenômenos. Podemos chamar esse sentido de “deificação”. O que já é divino por sua origem e natureza última deve realizar plenamente sua divindade ao transformar em ato a potência implícita. Cada ente é a manifestação singular de um Nome Divino. E precisa evolver para efetivar todas as possibilidades que comporta.
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