Em busca do Satguru (*)

Escalada rumo ao Lago Satopanth, em outubro de 1999: na esquerda da foto, aparece um carregador sherpa; mais à direita, Rohit Naithani; e, no centro, meu professor, Govindan Satchidananda.

Apresentação (por José Tadeu Arantes)

Garimpando antigos papeis, encontrei este texto de meu professor de Kriya Yoga, Govindan Satchidananda, que traduzi para mim mesmo há mais de uma década. A releitura me trouxe lágrimas aos olhos, tão belo é o relato em sua intensa devoção pelo Satguru, o incomparável Bábaji. Há pouco tempo, tive a felicidade de estar com meu professor em seu ashram, em Saint Étienne de Bolton, no Canadá. E pedi-lhe permissão para postar a tradução de seu texto neste Blog. Ele consentiu e ainda me enviou as fotos aqui publicadas.

Os sadhakas (praticantes) da Kriya Yoga de Bábaji, especialmente aqueles que já estiveram em Badrinath, no Himalaia, se sentirão intensamente tocados por este emocionante depoimento. Os demais leitores terão uma oportunidade rara para vislumbrar a grandeza do cenário himalaico e a sublime presença de Bábaji.

Com a permissão de Satchidananda, acrescentei notas de rodapé de minha autoria, para tornar certas passagens mais compreensíveis. Mas sugiro ao leitor que deixe essas notas para depois, de modo a não quebrar o ritmo fascinante da narrativa.

O relato de Govindan Satchidananda

Durante muitos anos, pensei em ir ao ashram de Bábaji, perto de Badrinath, no Himalaia. É conhecido como Gauri Shankar Pitam. E já foi descrito por V. T. Nilakantan, em seu texto Babaji’s masterkey to all ills (1), e pelo iogue Ramaiah, em um dos primeiros números de sua revista Kriya Yoga Magazine. Eles foram chamados até lá pelo próprio Bábaji: Nilakantan no plano astral, o iogue Ramaiah no plano físico, em 1952 e 1954, respectivamente. O iogue Ramaiah disse-me que ficava em Sapt Kund (também conhecido como lago Satopanth), atrás do monte Nilakantan, a cerca de 30 quilômetros do templo de Badrinath.

Toda essa área em torno de Badrinath está cercada por lendas. Dizem que Arjuna foi a Sapt Kund banhar-se e purificar-se depois da batalha de Kurukshetra. E que Vyasa escreveu o Mahabharata em uma caverna de Mana, aldeia que fica três quilômetros a montante da cidade de Badrinath. Eu próprio escrevi a respeito de Badrinath no livro Bábaji e os 18 Siddhas (2).

No entanto, até alguns anos atrás, era proibido a quem não fosse de nacionalidade indiana ir além de Mana sem uma permissão especial. Durante minha visita com Annai a Badrinath em 1990, conheci um guia que me informou sobre o lugar e sobre as restrições relativas a estrangeiros desde que os chineses invadiram a região em 1962. As colunas chinesas penetraram 200 quilômetros pela estrada que desce de Badrinath a Rishikesh, chegando até a cidade de Srinagar, na região Garwhal do Himalaia. Foi assinada uma trégua, mas, desde então, os militares mantêm uma presença bastante evidente na área. Com a redução das tensões entre a Índia e a China nos últimos anos, fiquei sabendo depois que seria possível a um estrangeiro obter visto para visitar Sapt Kund.

Desde então, toda vez que lá voltava, eu fazia novas investigações. As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Durante o mês de outubro de 1998, em peregrinação a Badrinath com um grupo de 12 pessoas, conseguimos permissão dos soldados da fronteira para ir a pé até a cachoeira de Vasudhara, quatro quilômetros depois de Mana. É uma cachoeira espetacular, em queda livre de mais de 200 metros. Essa experiência inspirou-me a traçar planos para voltar em 1999 e tentar obter permissão para ir mais 23 quilômetros adiante: o trajeto todo até Sapt Kund. Por fim, o sonho acalentado há tanto tempo parecia estar ao meu alcance.

Na primavera de 1999, comecei os preparativos. Cartas foram escritas ao ministro pertinente em Nova Délhi. Eu queria viver esse sonho com vários estudantes de Kriya Yoga que me eram caros e que tinham expressado seu desejo profundo de ir até lá. Então, alguns convites pessoais foram feitos. Inicialmente, seríamos apenas seis pessoas. Mas a lista cresceu à medida que a notícia da peregrinação se espalhou. Quando o grupo chegou a 15 integrantes, comecei a recusar pedidos de participação. Algumas pessoas protestaram e persistiram por meios indiretos em sua tentativa de juntar-se a nós.

Percebi, então, que eu não poderia ser o guardião do ashram de Bábaji. Não cabia a mim decidir quem iria e quem não iria. Jamais havia me interposto entre Bábaji e seus devotos; tudo o que eu fazia era, por assim dizer, “entregar a correspondência”, por meio de iniciações que os instrumentalizavam a se tornarem discípulos. Mas não era meu papel decidir quem iria e quem não. Por isso, cancelei a peregrinação do grupo, dizendo a todos que eu não encorajaria nem desencorajaria seus esforços individuais. Resolvi ir somente com Walter Nilakantan (3), nosso coordenador na Índia, indispensável nas tarefas de obter permissão para avançar e contratar guias e carregadores. Tal como as coisas se deram, essa decisão revelou-se singularmente inspirada, dadas as árduas condições da caminhada com que deparamos depois.

Durante meses, eu ouvira repetidamente a “voz interior” de Bábaji, dizendo-me para ir a Sapt Kund. Às vezes, minha mente fazia objeções ao seu chamado. Afinal de contas, havia tanto a fazer, e viajar para a Índia durante um mês significaria uma sobrecarga considerável para minhas finanças. Minha mulher Annai, como sempre, apoiou-me inteiramente e encorajou-me a ir. Ela sentia, como eu, que, dessa vez, Bábaji se desvelaria. Ela queria muito ir também, mas, finalmente, chegou à conclusão de que não tinha preparo físico para fazer a difícil escalada.

No final de setembro de 1999, depois de coordenar três seminários de iniciação em Kriya Yoga, e participar de vários projeto de pesquisa no sul da Índia, Nilakantan e eu voamos para Nova Délhi e, lá, pegamos um táxi que nos levou a Haridwar. Depois de descansarmos, tomamos outro táxi, para uma viagem de 10 horas, de deixar os cabelos em pé, na estrada estreita e escorregadia à beira de abismos, com muitos trechos atravancados por deslizamentos e rochas roladas pelas chuvas.

Desde 1986, após a festa religiosa da Maha Kumbha Mela (4), eu já tinha feito tal viagem cinco vezes. Por isso, aprendi a desviar a atenção da tendência natural de desistir, nas muitas vezes em que nosso motorista ultrapassou caminhões lentos em curvas fechadíssimas. Em Josimath, deixamos o táxi e pegamos um ônibus local, o último a sair no final do dia. Viajamos espremidos, entre soldados, sadhus e peregrinos dos mais diversos tipos que se possa imaginar. Desconjuntado, o ônibus arremessava-se com a maior naturalidade nas curvas em zigue-zague, bordejando precipícios que iam até o fundo do vale, com os ocupantes repetindo silenciosamente seu nome favorito de Deus em busca de proteção. Depois, o ônibus arrastou-se lentamente pela última subida, de 40 quilômetros, na estrada escabrosa que leva a Badrinath.

Há 30 anos, teria sido preciso caminhar os últimos 17 quilômetros. Mas, de lá para cá, com a construção da estrada, o trânsito aumentou muito (5). Chegamos a Badrinath em 29 de setembro de 1999, depois que a noite já havia caído, e fomos para o Hotel Devlock. Notei que, nele, nada havia mudado, desde quando Annai e eu lá nos hospedamos durante nossa peregrinação de lua de mel, em 1990. Naquela ocasião, ela me filmou fazendo as 18 posturas básicas em frente ao monte Nilakantan e atrás do bangalô dos turistas, uma produção conhecida por todos os estudantes da Kriya Yoga de Bábaji. Estremeci com a lembrança de nosso quarto: escuro, úmido, com um banheiro repulsivo todo molhado e torneiras que não fechavam direito. Como não seria de surpreender, desta vez, embora o quarto fosse outro, o banheiro era tão deplorável quanto o anterior (6). No entanto, nada poderia diminuir a alegria que eu sentia por estar de volta a Badrinath. “Desta vez, vou percorrer todo o trajeto até o ashram de Bábaji”, minha mente não parava de repetir.

Eu estava cheio de entusiasmo e apreensão em relação ao que me esperava: um grande desconhecido, cheio de perigo, e a incerteza sobre ter ou não forças para enfrentá-lo. Desde que saíra de Haridwar, o mantra da “Entrega Total a Bábaji” repetia-se continuamente em minha cabeça, como uma música de fundo. Senti uma grande calma por baixo de todos os pensamentos, palavras e atos.

De manhã, acordei debaixo de pesados cobertores antes de o sol nascer, ouvindo os cânticos do templo. Levantei-me com a esperança de ter ao menos um vislumbre da luz do sol sobre o monte Nilakantan, mas ele estava coberto de nuvens. Então, me aqueci, fazendo as 18 posturas e bastante pranayama no terraço de nosso quarto de hotel. A meditação que se seguiu aprofundou-se em uma quietude sem respiração. Aconteça o que acontecer, pensei depois, esta viagem vai valer a pena.

Mais tarde, naquela mesma manhã, conheci Rohit Naithani, um pequeno empresário local que recentemente se diplomara em Nova Délhi e seria nosso intérprete durante a caminhada. Ele e Nilakantan contrataram três carregadores sherpas nepaleses, para levar nossos suprimentos e mochilas, bem como um guia local que também seria nosso cozinheiro. Compraram arroz, lentilha, farinha de trigo integral, alguns legumes e verduras, óleo, um fogão portátil e querosene.

Ainda naquela manhã, fui até a margem do rio, depois do templo, onde são feitas as orações em nome dos entes queridos que já partiram. Haviam-se passado somente algumas semanas desde o segundo aniversário da morte de minha mãe, Jane, ocorrida em 17 de setembro de 1997. Em outubro de 1998, eu havia trazido um grupo a esse mesmo lugar e pedira a um sacerdote local que oficializasse a cerimônia para nós. Desta vez, realizei a cerimônia sozinho. Fiquei triste ao pensar em seu fim trágico e no sofrimento de meu pai. Procurei mandar para eles uma mensagem de paz, mas continuava sentido a tristeza dos peregrinos que estavam por perto. Durante incontáveis gerações, eles aqui vieram e se encontraram com sacerdotes hereditários, que mantiveram arquivos familiares detalhados, com registros de visitas dos parentes das gerações precedentes. Antes de ir embora, mergulhei as mãos no rio Alaknanda (7) e derramei a água sobre a cabeça em sinal de reverência. Senti-me profundamente comovido ao perceber, naquele momento, que, como a correnteza do rio, nós, os peregrinos, éramos parte de uma cadeia ininterrupta de humanidade, sem começo nem fim, em busca do Divino.

De tarde, fomos dar uma caminhada pelos arredores de Mana, para estender as pernas e aclimatar os pulmões à altitude. Estávamos agora a mais de 3 mil metros de altura (8). Mana é uma aldeia habitada por integrantes de tribos originárias da Mongólia, que vêm para cá toda primavera e vão embora todo outono. É o povoado mais setentrional da Índia nesta região. Seus habitantes pastoreiam o gado nas colinas circundantes, cultivam batatas e tecem tapetes, que vendem em bazares no sul distante.

Lá visitamos a célebre caverna onde o sábio Vyasa teria escrito o poema épico Mahabharata há 5.100 anos. Também mostramos nossas autorizações ao oficial do corpo militar que controlava o acesso à rota de nossa viagem. Queríamos evitar todo e qualquer atraso possível, partindo no dia seguinte ao nascer do sol. Nilakantan já conseguira as preciosas autorizações um mês antes, depois de uma semana de negociações com os oficiais da polícia local. Eles nos informaram que nossa autorizações eram as primeiras dadas a estrangeiros para acesso ao lago Satopanth.

Na manhã seguinte, bem cedo, depois de recolocar as minhas coisas na mochila e deixar para trás tudo quanto eu não quisesse carregar, partimos de jipe em direção à trilha de Mana. Ficamos cheios de silenciosa apreensão ao passar pelos acampamentos de soldados ao longo do caminho. O mantra da “Entrega Total” voltava-me incessantemente à cabeça.

Descemos e ajustamos as mochilas. Eu carregava uma mochila leve, contendo apenas uma garrafa de água, lanches, máquina fotográfica e capa de chuva. Como não tivera tempo suficiente para me adaptar ao ar rarefeito, resolvi não carregar nenhum peso além do necessário. Fiquei maravilhado com o tamanho das mochilas dos três carregadores, cada uma delas pesando mais de 35 quilos. Mas, pensei, os pulmões deles devem estar perfeitamente aclimatados, pois viveram nesta altitude a maior parte de suas vidas (9).

Descemos em zigue-zague até a margem do rio, e passamos por uma frágil ponte suspensa. Do outro lado, havia um templo dedicado a Durga, a Mãe Divina. La rezamos, pedindo suas bênçãos e proteção. Como éramos peregrinos, procuramos deixar tudo para trás, principalmente o ego, o hábito de nos identificarmos com tudo o que não é o verdadeiro Eu, com tudo o que é impermanente. Abdicando conscientemente disso, a pessoa encontra a paz interior, identificando-se com o que resta depois que se abandona tudo: a consciência ininterrupta do “Eu Sou”.

Caminhamos por campos de batatas, passamos por várias mulheres sherpas, inclinadas para frente sob o peso de enormes fardos. Dali a algumas semanas, elas terminariam a colheita das batatas e levariam seus rebanhos algumas centenas de quilômetros para o sul, a fim de lá passar o inverno (10).

Durante mais ou menos um quilômetro e meio, seguimos uma trilha estreita e serpenteante, bordejando um penhasco sobre o rio Alaknanda, que esbravejava lá embaixo. À medida que subíamos, as montanhas se elevavam como torres de ambos os lados do desfiladeiro. Depois de percorrer cerca de três quilômetros, começamos a ter vislumbres da cachoeira Vasudhara, nosso destino no ano anterior. Estávamos agora muito acima do ponto onde as últimas árvores cresciam. A grama cerrada, que se tornava dourada com a aproximação do inverno, oferecia flores silvestres aqui e ali. Exceto pelo troar do rio e pelo som de minha própria respiração, tudo em volta era puro silêncio.

Parávamos por alguns minutos a cada meia hora. Naquela manhã, andei ao lado de nosso guia, muito à frente do grupo. Por volta do meio-dia, paramos durante uma hora em uma caverna para o almoço. Estava chovendo há algum tempo e vestimos nossas capas de chuva. Recobrei minhas forças com a refeição condimentada.

Logo depois de retomar a subida, chegamos ao fim dos campos relvados, onde um grande desfiladeiro e um deslizamento de pedra encerravam a trilha. Cada passo agora era um perigoso ato de equilíbrio, enquanto subíamos e descíamos escorregando sobre pedras enormes. O ar se tornava cada vez mais rarefeito e comecei a perder as forças. As pausas tornavam-se mais frequentes e nossos carregadores deslanchavam à nossa frente. No meio da tarde, eu sentia o coração martelando, peso nas pernas e uma fraqueza geral pela falta de oxigênio. Felizmente, o último quilômetro e meio daquele dia foi sobre o leito seco de um rio. Nos derradeiros metros, senti que ia desmaiar e perguntei-me se conseguiria chegar às cavernas onde nosso grupo estava montando acampamento.

Eram mais ou menos 16h30 quando entrei agachado em uma caverna e tirei a mochila das costas. Nosso cozinheiro pegou água de um riacho próximo e preparou uma refeição de chapatis e lentilha. Às 18 horas, já estava escuro. Entrei em meu novo saco de dormir, agradecido pelo calor que havia lá dentro. Dormi profundamente, só acordando com o nascer do sol.

Depois de me fortificar com sopa de missô, mingau e suplementos, retomamos a caminhada. Subimos até um espinhaço íngreme, que fazia parte de uma geleira, ofegando intensamente naquele ar rarefeito. Quando chegamos ao topo depois de uma hora, nossos corações se apertaram ao contarmos, ao longe, pelo menos mais três geleiras, que deveriam ser cruzadas nos próximos cinco quilômetros, antes de chegarmos ao alto de uma colina distante, nosso próximo ponto de referência. Lá, nosso guia apontou uma bandeira de cor ocre que flutuava ao vento. E explicou que, logo depois do alto daquela colina, estava o nosso destino, o lago Satopanth.

As duas horas seguintes foram as mais difíceis da caminhada, pois subíamos e descíamos as pedras enormes que cobriam a geleira. Todo passo era perigoso, tão precárias eram as rochas, e nossa atenção não podia se dividir entre os pés e o cenário esplendoroso à nossa volta. Parecia um teste final de nossa resistência e determinação de sacrificar tudo – até a vida – para chegar ao ashram de Bábaji.

Por fim, alcançamos a bandeira no topo da última colina, e, de repente, menos de 200 metros abaixo, lá estava o lago triangular verde-esmeralda. Belíssimo! Gritamos de alegria. Finalmente chegáramos. Fiquei espantado ao ver que estava cercado de todos os lados por picos altíssimos, cobertos de neve. Na outra extremidade, consegui enxergar uma praiazinha de areia. Descemos até uma área coberta de relva, com pedras enormes, perto de uma cabaninha quadrada ou kutir, construída há poucos anos por peregrinos, com pedra e cimento. O kutir seria nossa cozinha.

Satopanth: “Lá estava o lago triangular verde-esmeralda. Belíssimo! Gritamos de alegria!”

Depois de explorarmos os morros íngremes que cercavam o lago, à procura de cavernas ou lugares onde construir um abrigo, pois não havíamos trazido barracas, decidimo-nos por um muro de pedras baixo, com três lados de cerca de um metro de altura, edificado provavelmente há muito tempo por pastores ou peregrinos. Estendi um grande plástico grosso sobre ele e o prendi dos lados com pedras. Entrava nessa cabana improvisada pelo quarto lado, o lado aberto. Nilakantan instalou-se em uma caverna próxima, de uns 2,5 metros de comprimento, com uma entrada baixa, mas larga o suficiente para ele poder passar. Os carregadores foram para o kutir e desfizeram as malas.

Era um glorioso dia ensolarado, com o céu mais azul que eu já vira. Parecia estar estalando de energia prânica. À tarde, depois do almoço, comecei a explorar a área, rezando para encontrar o ashram de Bábaji. Depois de ler a narrativa que V. T. Nilakantan fizera de sua visita a Sapt Kund, eu achava que o verdadeiro ashram de Bábaji devia estar oculto. Como não havia trilhas, apenas rochas e pedras enormes, umas em cima das outras nos morros íngremes, a exploração não foi fácil. Finalmente, descobri um mirante muito acima do lago, em uma pedra achatada. Dali, eu conseguia ver praticamente o lago todo, bem como todas as montanhas circundantes. Nos dias que se seguiram, passei a maior parte de meu tempo ali, praticando as 144 kriyas que, 45 anos antes, Bábaji ensinara ao iogue Ramaiah.

Naquela mesma tarde, desci até as margens do lago, onde descobri uma grande caverna, embaixo de duas pedras enormes. A entrada era tão baixa que eu tive que passar engatinhando. Mas, depois que estava lá dentro, podia ficar confortavelmente de pé no seu centro. Dava a impressão de poder abrigar até uma dúzia de pessoas de uma só vez. Parecia ter sido usada por um grupo, porque, em muitos lugares, assentos de pedra eram evidentes, perto da parede interna. Sentei-me no canto mais longe da entrada, em uma grande pedra achatada e fechei os olhos. A poderosa presença de Bábaji tornou-se evidente e eu me enchi de felicidade e de luz, uma grande expansão do ser e uma paz muito profunda. Estava em casa.

Satchidananda e Rohit, próximos ao Lago Satopanth, em 4 de outubro de 1999.

Mais tarde, depois de sair da caverna, descendo o morro por uns 30 metros, descobri no chão um buraco para fazer fogo, forrado de pedras, e na forma quadrada tradicional de um mantra yagna pitam (11). Havia restos de carvão de um fogo de yagna. A pouco mais de um metro dali, encontrei, nas quatro direções, pedras achatadas, sobre as quais era possível sentar comodamente e olhar o fogo. Fiquei eufórico com a descoberta: era exatamente o que o iogue Ramaiah mostrara em sua pintura de Mátaji lavando os pés de Bábaji (12). Essa pintura serviu de base para o quadro feito por minha irmã, Gail Tarrant, reproduzido na contracapa de uma das edições do livro Bábaji e os 18 Siddhas. É uma representação incrivelmente acurada da paisagem do verdadeiro lago Satopanth. Em especial, descobri que os três picos ao fundo, entre os quais o monte Nilakantan, e os morros íngremes que cercam o lago por todos os lados são exatamente os mesmos que aparecem nessa pintura.

Nos dias que se seguiram, permaneci sentado em êxtase durante a maior parte do tempo, em meu mirante sobre o lago. “Que felicidade inefável!”: estas palavras tiveram tal impacto sobre mim que minha consciência, por assim dizer, virou do avesso. “Isso”, a “Presença”, veio para o primeiro plano, e tudo o mais recuou para o fundo. O mundo físico, percebido por meio dos sentidos, parecia uma série de imagens em uma tela de cinema. Talvez a atmosfera rarefeita e o processo de purificação pelo qual eu passara durante os últimos dias, para não mencionar os 30 anos de sadhana intensiva, tivessem ajudado a preparar o palco (13). Mas o espetáculo não dizia respeito aos fenômenos. Era a fusão da “Consciência”, que até então estivera trancada lá dentro, com “Essa Realidade”, que permeia tudo. Que paz e tranquilidade inefáveis!

A ausência de pensamentos, em geral comuns onde quer que se encontre uma habitação humana (e sua poluição física e mental), era impressionante. A neve pura cobria as montanhas, que se elevavam como torres de todos os lados, qual sentinelas guardando um espaço sagrado. Apontavam para o céu, para o azul infinito. A intensa luz do sol iluminava e permeava tudo. Que êxtase! Aqui, os eventos naturais, como as avalanches de neve e pedras que ocorriam várias vezes por dia, assumiam novos significados. Fiquei maravilhado com o fato de a geleira na qual eu estava sentado e que me cercava ter sido formada ao longo de centenas de milhares de anos, pelo efeito cumulativo dessas avalanches. E pelo fato de seu movimento e fusão terem alimentado o Ganges e os planaltos secos e empoeirados da Índia durante milhares de gerações. Como estamos todos interconectados no espaço e no tempo!

“Fulgurante consciência do Eu!”, eu exclamava de tempos em tempos, quando a mente fazia tentativas de descrever o estado em que me encontrava. Bebi até me fartar no Oceano da Bem-Aventurança, que se derramava daquela geleira elevada de Sapt Kund, uma das cabeceiras dos quatro rios principais que formam o Ganges.

No dia 3 de outubro, tomei um banho com o maior cuidado, nas águas geladíssimas do lago. O calor do sol mal as tornava toleráveis. A cor do lago era verde-esmeralda, sem ondas em sua superfície de cristal.

O primeiro darshan de Bábaji (14)

No dia 5 de outubro, entre 15h30 e 17h, tive a primeira de duas visões de Bábaji. Eu estava sentado em meu mirante favorito, a um quilômetro e meio do lago Satopanth, quando a forma radiante de Bábaji apareceu diante de mim. Ele tinha exatamente a aparência da fotografia tirada por V.T.Nilakantan há quase 50 anos. Com os cabelos acobreados, a pele morena clara, olhos castanhos escuros, estava descalço e vestia apenas um dhoti (15) amarelo claro, que ia da cintura aos tornozelos. Caminhou em minha direção e me abraçou. Senti que uma poderosa luz dourada me impregnava.

“Estou muito feliz por você ter recebido e agido de acordo com as mensagens que telepaticamente lhe enviei”, disse-me ele. “Apesar de todas as dificuldades, e de todos os seus compromissos, você finalmente conseguiu chegar aqui. Removi muitos obstáculos para que você viesse. Convenci o oficial de Joshimath a lhe dar o visto. Não deixei que nevasse durante o inverno inteiro, para que você pudesse atravessar a geleira”. Depois acrescentou: “Foi bom você não ter trazido um grupo, porque as circunstâncias seriam difíceis demais e sua distração teria impedido que você tivesse as experiências que eu queria que você tivesse aqui”. Então sorriu ao dizer: “Você tem as minhas bênçãos e a Ordem dos Acharyas (16), que fundou em meu nome, vai disseminar aos poucos a minha Kriya Yoga pelo mundo todo”.

Em seguida, deu-me várias mensagens importantes relativas a outras pessoas. Por causa de sua natureza pessoal, vou apresentar aqui somente um resumo:

  • Pediu-me que convidasse Michael McGinnis e Teresa Nardi para satisfazerem as condições necessárias para se tornarem acharyas de sua ordem;
  • Pediu-me para dizer a Nacho Albalat que, se continuasse com sua sadhana e karma yoga, elas seriam de grande utilidade para ele ao levar a Kriya Yoga ao povo da Espanha;
  • Pediu-me que escrevesse ao iogue Ramaiah e a seus discípulos, para lhes dizer que parassem de falar mal de mim, de nosso trabalho e de nossa missão, e que deviam, ao contrário, dar-nos apoio. “Diga ao iogue Ramaiah que estou muito aborrecido com ele por suas atitudes e comportamento em relação a você. Violam os princípios básicos do amor à verdade e da não violência. Diga-lhe que você, Marshall Govindan, tem as minhas bênçãos, assim como a Ordem dos Acharyas que você fundou em meu nome. Diga-lhe que deve apoiá-la irrestritamente”;
  • Bábaji também pediu que dissesse a minha mulher Annai o quanto apreciava o belo trabalho que ela fizera nos últimos dez anos em favor de sua missão. Mas que havia tanto trabalho a fazer e seu estado de saúde era tal que ela devia se afastar de suas atividades correntes e se concentrar em suas necessidades pessoais, inclusive sua saúde e sadhana espiritual: “Ela tem que abrir espaço para outros assumirem suas responsabilidades anteriores no ashram do Canadá”.
  • Bábaji também me pediu para escrever à presidente da Self Realization Fellowship, Daya Mata. “Diga-lhe que admiro realmente todo o belo trabalho que ela e a SRF estão fazendo para disseminar os ensinamentos de Yogananda”. E depois acrescentou: “Mas houve alguns erros graves. Peça-lhe para parar de processar outros indivíduos ou grupos espirituais. Diga-lhe que precisa aprender a apreciar e respeitar o que é bom e grande em cada um deles. Todos os ramos da tradição da Kriya Yoga deram frutos, embora não sejam os mesmos. Diga-lhe que procure respeitar e apreciar o que é bom e grande em cada um deles, mesmo naqueles que criticam a SRF, e que aprenda a trabalhar com eles”. Depois, ele me pediu para lhe transmitir dois outros comentários sobre o mausoléu que queriam construir para Yogananda e sobre a declaração da SRF de ser uma religião”.

“Escreva a todos os iniciados em Kriya Yoga e conte-lhes de dei a você um darshan aqui em Sapt Kund, neste outubro de 1999”, disse-me ele. “Peça-lhes o apoio contínuo à minha missão por meio da Ordem dos Acharyas. Por meio dela, minha Kriya Yoga será disseminada pelo mundo inteiro. É seu dever e honra apoiar essa grande obra. Devem ajudar de todas as formas possíveis, inclusive pela sadhana pessoal, pelo partilhar o que têm de seu e por doações regulares à Ordem. Só com o apoio regular e constante, a promessa da Kriya Yoga de libertar a humanidade de sua ilusão e sofrimento será cumprida. Diga-lhes que abençoo todos os discípulos e devotos da Kriya Yoga”.

Depois que Bábaji me disse tudo isso, eu mal conseguia falar. Só pude murmurar: “Sim, Satguru Deva, farei isso”. Prostrei-me diante de sua forma. E, quando me levantei, ele tinha desaparecido”.

O segundo darshan de Bábaji

No dia 6 de outubro, entre 9h30 e 10h30, Bábaji apareceu outra vez à minha frente. Depois de me abraçar carinhosamente, sentamo-nos juntos e ficamos sem falar nada durante algum tempo. A atmosfera à nossa volta estava impregnada de um oceano de luz dourada. Ele parecia esperar que eu dissesse alguma coisa. Então, lhe fiz duas perguntas, que haviam me ocorrido desde o darshan anterior.

“Satguru Deva”, eu disse, “por que permitiu ao iogue Ramaiah, que era como um ‘filho’ para o senhor, tratar mal tantas pessoas? Estou me perguntando se ele ainda é seu discípulo”.

Bábaji respondeu o seguinte: “Dei a ele liberdade para agir, de modo a aprender com seus erros, como faço com todos. Embora eu tenha pedido a ele para iniciar outras pessoas em Kriya Yoga, nunca lhe pedi para tentar controlar os outros ou tratá-los mal. Ele se aproveitou da inexperiência e ingenuidade juvenil de muitos discípulos. Condenou rigorosamente aqueles que o deixaram e proibiu os outros de terem qualquer contato com eles”.

“São trágicos esses erros humanos”, prosseguiu. “Foi por isso que tive que começar tudo de novo com Nilakantan e Ramaiah, a quem amei tanto que comecei a chamá-los de ‘minha criança’ e ‘meu filho’, respectivamente. Infelizmente, a carga de meu trabalho e os ataques daqueles que estavam com ciúmes cobraram seu preço à ‘minha criança’. Ele estava doente e sobrecarregado de responsabilidades familiares. Depois, veio a desavença com o ‘meu filho’. Meu trabalho sofreu por causa de todos esses erros. Agora, está atrasado em 400 anos”.

“Todos cometeram erros, e eu os perdoei. Mas, apesar disso, têm que pagar o preço de suas más ações e aprender com elas”, falou. “Não há necessidade de ‘esmagar o ego’ dos discípulos, como o iogue Ramaiah sempre insistiu em fazer. Em vez disso, é preciso alimentar quem eles são de verdade. Ao se concentrar no Eu Divino, praticando sinceramente a Kriya Yoga e por meio do serviço altruísta prestado a mim através dos outros, o ego vai se desfazendo gradualmente. É um simples mecanismo psicológico que, quando observado com desapego e plena consciência, pode ser dominado e dirigido para o meu trabalho neste mundo”.

“Peço a você, Marshall Govindan, que continue aprendendo com os erros dele, que levante onde ele deixou cair, e traga para minha Kriya Yoga todos os que buscam sinceramente a Verdade, por meio de uma rede de acharyas dedicados, trabalhando juntos nessa nova Ordem. Que todos vocês mantenham tudo tão ‘bem arrumado’ quanto sua mulher, Annai, mantém o ashram do Canadá! Você também não é imune a erros, mas, enquanto tentar sinceramente aprender com eles e tratar a todos com dignidade, como minha personificação, minha graça continuará a fluir através de você, rumo à realização de minha missão. Você trabalhou muito duramente nos 30 anos passados para levar minha Kriya Yoga a milhares de pessoas no mundo inteiro. Eu o guiei ao longo de todos esses anos e vou continuar a guiá-lo”.

“Que todos aprendam com seus erros e saibam que os amo incondicionalmente – mas nem sempre aos seus comportamentos!”, com uma risada, Bábaji virou-se e desapareceu.

Aquilo foi avassalador para mim. De repente, tudo ficou claro! Imediatamente, pus no papel o que Bábaji dissera. Todos esses anos, o iogue Ramaiah tinha sido um enigma para mim, tal a contradição entre o iogue que falava tão eloquentemente da Kriya Yoga Siddhantam Tâmil, ou que manifestava tanto amor e devoção, e, ao mesmo tempo, podia mostrar fraquezas tão humanas. Eu, como muitos outros, racionalizara, dizendo que suas fraquezas eram só aparência, exercidas para o nosso bem, para “esmagar nossos egos”, como ele dizia. Por isso, desistira de tentar compreendê-lo ou julgá-lo, e mantive silêncio a respeito de seu comportamento controvertido. Se não conseguia entendê-lo, quem era eu para julgá-lo ou denunciá-lo? Por fim, Bábaji viera em meu socorro e senti uma grande carga de sigilo ser retirada de meus ombros.

Durante os dois dias seguintes, voltei àquela vasta extensão do ser sem pensamentos. A paz inefável tinha agora se enraizado em todos os lugares, pacificando finalmente até as memórias de uma relação mal resolvida com alguém que eu ainda amava tanto. Perdoei o iogue Ramaiah por tudo quanto fez de mal para mim e para os outros. Se o seu comportamento era motivado por um desejo sincero de ajudar ou era movido por suas necessidades pessoais, só Bábaji sabia. E agora Bábaji se pronunciara. O iogue Ramaiah era, afinal de contas, um ser humano. E eu o perdoo por sua humanidade.

Na noite de 6 para 7 de outubro, nevou abundantemente. De manhã, cerca de 20 centímetros de neve cobriam tudo. Ficaria preso pela neve se ela continuasse caindo. Felizmente, fez sol no dia 7 de outubro, mas a neve não estava derretendo. Achei que estava na hora de levantar acampamento e ir embora. Disseram-me que, no inverno anterior, não nevara nem um pouco entre Badrinath e Sapt Kund, e foi somente por causa dessa condição extremamente rara que conseguimos chegar lá. Embora parte de mim continue em Sapt Kund, e esteja lá agora mesmo, o veículo mais denso não teria sobrevivido e era meu dever continuar “entregando a correspondência” para muita gente. Bábaji está em todos e eu agora o vejo claramente em todos! Talvez seja esta a mensagem que ele mais queria que eu transmitisse. “Procure Bábaji para se tornar Bábaji”, primeiro em seu próprio coração, depois em todos e em tudo.

Com a ajuda dos carregadores restantes, do cozinheiro e de Walter Nilakantan, arrumei as malas. Momentos antes de partirmos, tiramos fotografias de nosso grupo. Houve uma avalanche assim que saímos e o final dela fez chover sobre nós uma nuvem de neve! Sempre que Bábaji está satisfeito, ele envia chuva, como observei várias vezes no final de nossos retiros. Essa foi a primeira vez que ele mostrou sua satisfação com uma avalanche!

Lentamente, fizemos nosso caminho de volta. As primeiras horas foram cheias de perigo, a cada passo na neve que cobria as enormes pedras sobre a geleira, naquilo que começamos a chamar brincalhonamente de “o Vale do Juízo Final”. Quando o sol nos aqueceu, tirei meu casaco e entreguei-o a um carregador. Depois, quando começou a nevar e um vento frio nos açoitou, arrependi-me. Meu casaco e minha garrafa extra de água estavam com o carregador que corria à nossa frente. Fiquei desidratado e com muito frio. Minha garganta nunca esteve tão seca. Perdi a capacidade de falar e fui ficando cada vez mais desidratado e fraco, durante as 12 horas de descida.

Por volta das 18 horas, estava escuro como o breu, e ainda precisávamos de duas horas e meia para alcançar o jipe que nos esperava na trilha principal de Mana. Uma lanterna bruxuleante tinha que ser dividida entre quatro de nós, em uma trilha estreita ao longo de um penhasco, muito acima do rio Alaknanda, que corria uns 30 metros abaixo. Usei meu cajado como se fosse uma bengala de cego para evitar um passo em falso que me levaria ao fundo do desfiladeiro e à morte certa. Descendo continuamente montanha abaixo, meus artelhos ficaram doloridos, com o atrito dentro das botas. Cada passo doía e podia ser fatal.

Por fim, os carregadores, que tinham nos deixado para trás, voltaram com outra lanterna e ajudaram-nos a terminar a descida. Voltei exausto ao meu gelado quarto de hotel em Badrinath e derramei dois baldes de água quente sobre os músculos cansados para me recuperar.

No dia seguinte, rejubilei-me com o fato de estar vivo, e pela emoção palpitante das experiências da última semana. Visitamos o templo e agradecemos ao Senhor Badrinarayana por suas bênçãos e por nos permitir regressar a salvo. Mais tarde, caminhamos pelas colinas que cercam a cidade, luxuriantes ao sol cálido, sob magníficos céus azuis. O mantra da “Entrega Total” continuava a ressoar ininterruptamente contra o pano de fundo dos meus movimentos mentais.

Eu não consegui falar durante os quatro dias seguintes, de tão afetada ficou a minha voz com a provação da descida. Sentia-me felicíssimo por ter sobrevivido e pelo que Bábaji me dera: a percepção de que Ele está em toda parte, como o Ser Essencial subjacente, e de que não é necessário estar em Sapt Kund para contatá-lo. Só é necessário ser verdadeiramente a pessoa que a gente é. Para isso, é preciso mergulhar dentro de si e ir até o topo da montanha interior. Ali, encontrar a si mesmo é encontrar Bábaji.

Que todos os leitores deste texto façam sua peregrinação interior “em busca do Satguru”. E tenham a visão do Amor Universal. Jai Bábaji! Jai Kriya Yoga!

Notas (por José Tadeu Arantes)

(*) Satguru é o mestre inteiramente realizado.

(1) Esse texto faz parte do livro The voice of Babaji: a trilogy on Kriya Yoga, by V.T.Neelakantan, S.A.A. Ramaiah and Babaji Nagaraj, Babaji’s Kriya Yoga Publishers, 2nd edition. Para adquirir, acesse http://www.babajiskriyayoga.net/english/bookstore.htm

(2) Babaji e os 18 Siddhas: A Tradição da Kriya Yoga, por M. Govindan Satchidananda, Babaji’s Kriya Yoga Publishers. Para adquirir, acesse http://www.babajiskriyayoga.net/portuguese/bookstore.php

(3) Nilakantan (transliterado em inglês como Neelakantan) significa “Pescoço Azul”. E, como tal, é um dos 1000 ou 1008 nomes de Shiva. Devido ao costume indiano de conferir os nomes divinos a acidentes geográficos ou a pessoas, a palavra Nilakantan aparece, neste texto, com três conotações diferentes: como o nome do monte mais elevado da região de Badrinath, no Himalaia; como o nome do grande discípulo de Bábaji, o jornalista e escritor V.T. Nilakantan (1901 – 1983); e como o nome de Walter Nilakantan, que, na ocasião em que Govindan Satchidananda fez a expedição aqui narrada, coordenava as atividades da Kriya Yoga de Bábaji na Índia.

(4) A Maha Kumbha Mela é a maior das quatro Kumbha Mela, que ocorrem, em um sistema de rodízio, a cada 12 anos. Para mais informações sobre esses festivais religiosos, acesse, neste Blog, o texto “Kabir, o tecelão da palavra”, em https://josetadeuarantes.wordpress.com/2012/03/05/kabir-o-tecelao-da-palavra/

(5) Visitei Badrinath em outubro de 2011, com praticantes de Kriya Yoga de vários países, sob a coordenação de meu professor, Govindan Satchidananda, e de sua atual esposa, Durga Ahlund. Viajamos de Rishikesh a Badrinath em dois ônibus de tamanho médio, pois seria impossível para um ônibus de grande porte manobrar nas curvas fechadíssimas da estrada. Graças à perícia e à prudência dos dois motoristas contratados, a viagem transcorreu em perfeita segurança. Cada um deles tinha um jovem ajudante nepalês, que descia do ônibus sempre que o motorista precisava de sinalização em manobras mais complicadas, ou quando era necessário retirar alguma pedra do caminho. Devido aos deslizamentos, a estrada, franqueada por paisagens deslumbrantes, vive em permanente manutenção.

(6) A condição de hospedagem em Badrinath evoluiu muito desde 1999. Graças ao crescimento econômico acelerado da Índia, pudemos desfrutar, em 2011, de um hotel com padrão “quatro estrelas”, o Sarovar Portico, com vários problemas, mas surpreendentemente confortável para um lugar de tão difícil acesso.

(7) O Alaknanda é um dos tributários do Ganges. Nasce no glaciar de Satopanth e desce velozmente as encostas do Himalaia. Depois de percorrer cerca de 200 quilômetros e receber as águas de outros tributários, se encontra com o rio Bhagirathi em Devprayag, originando formalmente o Ganges.

(8) Badrinath localiza-se a uma altitude média de 3.415 metros. Mana, que se situa a montante no curso do Alaknanda, é um pouco mais alta. A região toda é cercada por montanhas majestosas. A mais elevada delas, o monte Nilakantan, permanentemente coberto de neve, alcança 6.560 metros (uma foto do cume do monte Nilakantan ilustra a página inicial deste Blog).

(9) A concentração total de oxigênio na atmosfera é de aproximadamente 21%. Esse valor não depende da altitude. O que diminui com a altitude é a densidade do ar, e, portanto, a pressão atmosférica. Quanto menos denso ou mais rarefeito o ar, menor o número de moléculas de oxigênio disponíveis por unidade de volume. A pressão atmosférica, cujo valor médio é de 760 mm Hg ao nível do mar, cai para aproximadamente 511 mm Hg em Badrinath, fazendo com que, a cada inspiração, o indivíduo receba, em média, 33% menos oxigênio. E essa queda torna-se ainda mais expressiva nos dias frios (pois a pressão é diretamente proporcional à temperatura) e à medida que a pessoa percorre as trilhas ascendentes circundantes.

(10) Devido às fortes nevascas e avalanches, toda a população de Badrinath e arredores é obrigada a abandonar a região no inverno. Apenas um destacamento militar lá permanece, aquartelado.

(11) Mantra (plural de mantram) são as sílabas sagradas ou as palavras de poder que evocam e invocam a Presença Divina, sem forma ou na forma de luz, deuses, deusas, siddhas (iogues perfeitos) etc. Yagna é o fogo sacrificial, utilizado desde a aurora do tempo nos rituais devocionais. Nas tradições ióguicas, norteadas pelo princípio da não violência (ahimsa) e pelo vegetarianismo, não existem sacrifícios de animais. O que se atira ao fogo são sementes (arroz, lentilha etc), flores, gee (manteiga clarificada) e coisas semelhantes. A intenção que deve nortear o participante é a de sacrificar o próprio ego diante do Eu maior. Pitam (transliterado em inglês como peetam) pode ser traduzido como lugar de adoração ou local destinado à pratica devocional.

(12) Essa pintura mostra Mátaji, a “irmã espiritual” ou “consorte mística” de Bábaji, realizando um antiquíssimo ritual denominado Pada Puja (Adoração dos Pés do Guru).

(13) Sadhana é a prática espiritual, ou melhor, o caminho de autorrealização, constituído por várias disciplinas.

(14) Darshan, literalmente “visão”, é a bênção concedida por um santo ou mestre espiritual. Pode ser uma bênção formal, com gestos e palavras, ou um simples vislumbre, que faz com que a graça do santo ou mestre se derrame sobre aquele que o vê.

(15) Traje masculino tradicional da Índia. Consistem em um simples pano retangular, enrolado em torno da cintura.

(16) Criada por Satchidananda em 1997, a Ordem dos Acharyas da Kriya Yoga de Bábaji (Babaji’s Kriya Yoga Order of Acharyas) é uma rede não sectária de professores de vários países, treinados, qualificados e autorizados a disseminar a Kriya Yoga de Bábaji, por meio de palestras, aulas públicas, seminários de iniciação e retiros.