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Para Paula Desgualdo
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“O mundo é seu próprio véu. Ele não pode ver Deus pelo fato mesmo de que se vê”
(Ibn Árabi)
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“Tudo isto é para habitação do Senhor: tudo que é universo individual de movimento no movimento universal”
(Isha Upanishad)
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Viver enquanto se está vivo
Ou, mais compactamente
Viver enquanto se vive
Ou, resumindo
Viver
Como quem saboreia uma pequena porção
Ou lê um longo parágrafo que começa assim
Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo
Ou, talvez
Essa hora que pode chegar alguma vez fora de toda hora
Então será preciso agarrar a ideia
Porque as palavras transbordarão em atropelo
E o jeito é descer a encosta correndo
Para não tropeçar e cair
Mas, seja Proust ou Cortázar
Será sempre arábica de altitude,
No ponto perfeito da torra
Sem que se faça o desplante
De colocar adoçante na xícara
Porque, se o mundo é seu próprio véu
Tudo isto é para habitação do Senhor
Tudo que é universo individual de movimento
No movimento universal
Assim, é preciso dizer obrigado
E acolher os filhos e os netos
E abraçar e beijar os amigos
E sorrir aos desconhecidos
E tirar os sapatos na porta
E cuidar dos cinco corpos
E alimentar o kefir e o instagram
E fazer da cotidianidade contemplação
E da contemplação o assombro
E do assombro reverência
Até que sobrevenha a acalmia
Da douta ignorância
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