Meu credo pessoal

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1. Sim, creio em uma Realidade Única – indescritível, inimaginável, inconcebível –, cujo “Sim” produz tudo o que há, e cujo “Não” impõe subtrações a esse tudo, de modo que o Um se multiplique e o Absoluto se relativize.

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2. Sim, creio que esse Mistério Insondável manifesta-se como Pai e Mãe primordiais – existência, consciência e gozo irrestritos –, geradores incorpóreos das miríades de entes e fenômenos, inclusive dos deuses e deusas, que os antigos souberam nomear.

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3. Sim, creio que o Amor sustenta este Cosmo, e estabelece a regra do que é regular,  e permite que a transgrida ao que é assombroso; esse Amor, que, nas palavras de Dante, move o Sol e as outras estrelas.

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4. Sim, creio que a Terra é uma nobre morada, provedora generosa de abrigo e sustento, doadora graciosa de incontáveis belezas; e que não devemos subestimar sua importância, dizendo que é pequena e se localiza em um braço da galáxia, pois, se fosse grande ou ficasse no centro, nossa existência seria impossível.

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5. Sim, creio no uso parcimonioso e inteligente dos recursos da Terra e na preservação de suas belezas; e que o desfrute da superabundância divina, que se derrama sobre tudo e todos, não é compatível com a iníqua e doentia apropriação e acumulação individuais de riquezas.

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6. Sim, creio na irmandade de todos os humanos, e em nossa irmandade com todos os entes; e que as tantas ações, palavras e pensamentos maus, por piores que sejam, são apenas produtos de uma vitalidade e de uma mentalidade imaturas, cujo inelutável destino, ainda que para tanto sejam necessárias um milhão de vidas, é amadurecer.

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7. Sim, creio na liberdade de escolha, e que é deleitoso conviver com o diferente, pois que pobre e tedioso e triste seria se todos tivéssemos a mesma aparência, falássemos a mesma língua e cultivássemos os mesmos valores; se o Pai e a Mãe não amassem a diferença, como poderia o Cosmo existir?

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8. Sim, creio no conhecimento e na beleza; no poder da filosofia, das ciências e das artes; na coexistência, convergência e colaboração das tradições espirituais antigas com as concepções mais modernas, entendendo a ambas como balbucios de uma jovem consciência que busca conhecer, encarando-as não como portos de chegada e referências definitivas, mas como degraus de uma escada que se espirala e ascende, rumo ao infinito.

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9. Sim, creio na cordialidade — na interação entre corações — como paradigma das relações interpessoais; na livre circulação de pessoas e ideias, baseada no princípio de uma só e grande família humana; na superação de qualquer tipo de discriminação baseada em diferenças de gênero, raça, orientação sexual, prática religiosa, opinião filosófica, filiação política, ou o que quer que possa constituir um fator de divisão.

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10. Sim, creio na alegria, que nos permite rir de nosso não-saber e temperar com bom-humor o espanto, de outro modo avassalador, suscitado pelo mistério da existência.

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